19.4.06

Um número num catálogo

Ainda hoje me impressiona quando olho para eles, como se não quisesse que eles me vissem. No seu olhar baço eu vejo a sombra de uma vida queimada. São fabricantes de fósforos. Por um segundo de luz, viveram uma eternidade nas trevas. Hoje a sua miséria, a sua infelicidade, não chega a ser uma acusação nem um ressentimento, tão pouco um remorso. É, para nós todos, uma completa indiferença. A sua fotografia, ridícula de má imagem, aguarda o funeral da catalogação, para que se suma de vez, incomodativa que é, no coval do tranquilizador esquecimento.