8.12.06

O meu Hugo!

Eu vim aqui dizer ao mundo inteiro que hoje é o último dia em que este jovem é menor. Amanhã entra na categoria do «senhor Hugo». Um pai cumpre-se quando um filho segue o seu caminho. Foi sempre assim e assim será. Boa sorte, pois, meu rapaz! E não te esqueças, já agora de arrumar o quarto e a loiça da cozinha! Não é por nada. É só para eu me orgulhar de ti!

Não digas nada!

A livraria era um labirinto de acasos. Encontrar um livro um exercício de persistência, olhos atentos, em cada recanto, uma surpresa. De encantamento em encantamento, reencontrei-a, quase inacessível, ali, a Dalila Pereira da Costa e a sua «Ladainha de Setúbal», além uma linha de verso, o «trago no sangue o mistério daquele resto de estrada que não andei», nos «Versos Quase Tristes» do Sebastião da Gama. Ia já de saída, o guarda-chuva quase na mão para enfrentar o real exterior e nele a morrinha que anunciava a noite, quando, de entre os livros me perguntaram, como se ao advogado se dirigissem, ao descobri-lo: «o senhor tem um caso cá em Setúbal?». Ia a responder que «sim, com a Serra-Mãe», quando um sentimento íntimo de acanhamento adolescente me sussurou ao ouvido: «não digas nada».