26.5.06

A ave do paraíso


Aguilhoante sentimento de ausência, entre a ânsia de regaço e as bicadelas pecaminosas da falta. Ali estava, diante de mim, ao virar de uma esquina, no final de um longo trajecto, de sala em sala, galeria em galeria, secção após secção. Esquálidas virgens medievas, reprimidas monjas holandesas, debochadas flamengas de dentes cariados, tinha visto todas. A piedosa mãezinha, a sonhadora donzela, a maléfica rainha. Só que chegara, entretanto aqui. A portentosa natureza em seu esplendor frutífero, a ave rapace em seu apetite voraz, tudo ali me era dado, como se ao alcance de um gesto, à espera do atrevimento das mãos. Foi então que o porteiro nos fez sentir que eram cinco horas. Hora de fechar. Amanhã abrimos pelas dez. Uma boa noite para todos.