1.5.06

A invenção da memória

Mal se adivinha hoje, mas eu passava por ali aos domingos pela manhã. Eram tempos em que não havia lugar para onde ir, pessoas novas para conhecer, acontecimentos a que pudessemos chamar novos. Ao chegar perto, os passos a aproximarem-se, retinha a marcha, sôfrego de que alguém aparecesse. Aconteceu uma vez só, um vulto a fechar a janela que hoje apodreceu na realidade do que se vê. Se eu tivesse algum dia subido, teria tentado saber como se inventa o amor. Assim, ficou apenas esta grosseira memória, carcomida e enxovalhante.