«O seu corpo, reduzido a quase um esqueleto nas últimos dias em que guardava o leito, sumia-se sobre as roupas, depois de morto, apenas se divisando a sua cabeça de farta cabeleira, a boca aberta como se ainda pudesse dizer a todos: “Irreverente como sempre fui, até me ri da Morte porque me antecipei a ela…”». Encontrei a frase sobre o seu suicídio e a foto num blog dedicado a coisas diversas, da política à cultura .
Na foto, sentada a Augusta, sua amiga íntima, a quem ele dedicou muitos dos seus angustiados pensamentos, num «Diário», cuja leitura terminei há algum tempo, depois de, num primeiro relance e ter parecido, injustamente, pateticamente ridículo, como todos os escritos amorosos.
Todos os seus escritos manifestam a visão psicopatológica, nele quase obsessiva, enquanto explicação para a complexidade do ser humano e da errática sociedade. A sua tese de licenciatura, galardoada com dezanove valores já o prenunciava, intitulando-se «A Doença da Santidade (ensaio psico-patológico sobre o misticismo de forma religiosa)».
Ontem à noite estive com as «Prosas Dispersas»; mais uma horas e, acabado o livro, talvez consiga falar dele, quando me esquecer de um frase sua « sofro da horrível desgraça do homem que olha para a vida e sente que já não pode ser enganado…».