17.12.07

O filho do solicitador

Aos vinte anos andava por São Tomé, por Cabinda, por Malanje enfim, onde eu nasci. Fundou uma estação de rádio. Trabalhou como solicitador. Morreu pobre. Dele guardo a memória e os livros de Direito, encadernados a pano na Tipografia da Missão. Foi no seu escritório que percebi que o Direito pode ser contado como uma história, lendo os livros que o professor Alberto dos Reis, esse solitário mestre de Coimbra, escreveu depois de se aposentar. Talvez tenha sido por isso que me tornei advogado. Toda a vida me senti o filho do solicitador. O meu padrinho de baptismo, por ser advogado era, na minha visão de miúdo, um senhor importante. Eu era, como sempre me senti, no respeito que ganhei pelas profissões, o filho do solicitador.