18.8.08

Ridícula e absurda

As malas de senhora, como é sabido, não têm fundo, cabe no seu infinito túnel a imensidão do mundo e mais as chaves de casa, que são as que nunca aparecem quando surge a porta e ainda a tralha diversa dos seus acompanhantes sem mala, quando Madame tem parelha. Além disso são um artigo de toilette, tendo por isso que condizer em chic com a indumentária e o momento, algumas vezes uma arma de arremesso, nomeadamente em caso de roubo de esticão ou assédio imprudente.
Já nos homens a coisa complica-se. Desde que as pochettes passaram a chamar-se mariconeras aquela pendureza sub-axilar tornou-se ambígua, carregada de decorrências linguísticas subliminares e simbólicas.
Por assim ser, descontado o saco de plástico, atributo de reformado às compras, resta a pasta, de couro com fechos e pegas, sinal de distinção no mundo dos carregadores de problemas, justificação para a espinhela caída, forma de esconder, entre livros e dossiers, a vergonha das contas por pagar e o pudor dos versos inconfessados. Por vezes ridícula e absurda, é o que há para se enfrentar a vulgaridade transportadora.