Da última vez que lá tinha estado, de passagem, havia apenas uma pensão e um modesto restaurante. Agora há uma pousada com bastantes estrelas, de que vi o exterior. O lugar é magnífico porque insólito, um vago cheiro sulfuroso perfuma o ar. A cor incendeia os olhos, o vermelho ocre, o cobreado, mais alguns outros anéis do arco-íris, ferruginosos, pétreos, na paleta dos azuis e dos verdes, o negro vulcânico, a cinza, os fundidos no cadinho alquímico da Mãe Natureza. Encontrei agora esta fotografia, que retrata com perfeição a sua solitária grandeza.
É a Mina de São Domingos. Aqui ao lado de mim, na Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian, há uma colecção de slides. Só pode ver-se através da rede local. Quantos outros ali estiveram, a guardar em fotografias, tão pungentes como esta ou esta, ou tantas mais, a alma envenenada de uma mina abandonada.
Em 1997 Filipe Verde produziu um documentário a que chamou Biografia de uma Mina. Em tempos estudei a La Sabina, a empresa que explorava o minério, por causa de um livro que vou agora começar a escrever. Agora estive ali. De passagem, sempre se passagem, o lugar vive ao abandono dos que passam e só de quando em vez voltam.