24.1.06

O sobejo da velha mala


Muitas vezes é como um favo numa colmeia, onde se acotovelam gerações. A promiscuidade dos sons, a repugnância dos cheiros, o desventrar de todas as intimidades. Os ganidos do que dói, o estretor de quando se morre, o soluçar baixinho os males de amor, tudo se sabe e nada se evita. De quando em vez vaga um cubículo, o último porque alguém se jogou pela janela abaixo. Morava ali, incógnito, há poucos meses. A renda, penso, ficou por pagar, a única mala que tinha como coisa sua, de tão velha, ninguém a quis.