30.3.06

Uma lembrança, se faz favor


Houve já aqui um tempo de suspiros e águas correntes, amores venais e ilusões de ternura paga. Houve já aqui paixões de aluguer, carícias encomendadas, suspiros exagerados. Tudo aqui se simulou e nada parecia proibido. Houve já aqui um tempo em que homens e mulheres se entregaram uns aos outros em cadeias de união carnal, num deboche demencial, que nenhuma lei parecia impedir. É um dos lupanares de Pompeia, o bordel que a lava conservou. Passo aqui indiferente à ladainha do guia turístico, neste fim de tarde, perto da hora do jantar. Lá dentro nada há e ninguém ficou. Estão todos mortos, e não há sequer testemunhas para o recordar. A luxúria, a agonia do prazer infindo, os sentidos exaustos e o corpo insaciável, hoje é isto, este momento petrificado, imóvel, estático, simbolicamente vazio, um ponto de passagem num passeio, o hotel à vista, meus senhores obrigado pela visita, é só o que a vossa generosidade me quiser dar.