14.5.06

O indiferente Buda

Tem de facto um ar ridículo, e tudo aquilo é de facto incompreensível. De quem o deu, já ninguém se lembra, nem a que propósito. As mais velhas da família recordam-se todas de que aquilo já andava lá por casa quando elas brincavam com bonecas de trapo. Quantas tardes passei com a gramática francesa aberta a esmo, a olhar para aquilo só por não haver nada de melhor para se poder olhar, esgotado de verbos irregulares. Um dia talvez se quebre, o olhar atónito de porcelana, o lápis espetado, o indiferente Buda. Nesse dia, colar-se-ão os cacos, pela certa. Ao fim de tantos anos, já não conseguiríamos passar sem ele, o ar ridículo e incompreensível daquilo. Cada um de cada geração, reconhece-se ali, ninguém se lembra já a que propósito.