10.6.06

Mulher em casa de homens


Envolto na luxúria do sonho, entre o inesperado de um sorriso breve, a meia-cara, o cálculo de um olhos convidativos, enevoado pela duvidosa mistela peganhenta que se colava, queimando-a, garganta abaixo, o homem sorria. No alarve do despropósito, mal se ouvia o indiferente pianista martelando teclas, símeo musical daquele local animalesco. As paredes escorriam um ambiente de farsa encenada e de amores de encomenda. Foi então que ela entrou, varrendo em círculo o soturno local, como se buscando a sua presa. Casa de carícias de aluguer, há nela sempre uma que mais seduz, fingindo-se a escolhida. Minutos depois, sentavam-se as duas, ela a estranha mulher em casa de homens, a outra a indiferente criatura apta para o que viesse. Foi então, no preciso momento em que tudo se explicaria, que o homem acordou, alagado no seu próprio suor, a ressacada de um noite de solitária bebedeira babada no lençol, um longínquo piano num rádio que ficara por desligar. Nesse domingo de manhã, o sol começava a raiar e com ele a dor profunda do não saber sequer o que fazer.