Enfeitiçada lua em noite quente, ei-la a inundar ventres de loucuras, transtornando as mentes já despertas para a vida. Surgiu-me, assim, inesperada, como se o acaso negro de uma doença ou o presságio de um sentimento amável. Nunca mais da mesma janela eu te verei, ó lua, minha companhia desta noite. Silenciosos, os pássaros, aninhados na sua plumagem, nem ousam. Ao longe a cidade, agacha-se como se para dormir. Um resto de luz despede-se em azul. Enfeitiçada, louca e transtornada, a lua inicia a sua subida, rápida, na parábola infinita dos céus. Rezaria, sabendo, pelo bem de todos os que são bons. A silhueta da tristeza marca-me o horizonte do impossível.