Aos vinte anos andava por São Tomé, por Cabinda, por Malanje enfim, onde eu nasci. Fundou uma estação de rádio. Trabalhou como solicitador. Morreu pobre. Dele guardo a memória e os livros de Direito, encadernados a pano na Tipografia da Missão. Foi no seu escritório que percebi que o Direito pode ser contado como uma história, lendo os livros que o professor Alberto dos Reis, esse solitário mestre de Coimbra, escreveu depois de se aposentar. Talvez tenha sido por isso que me tornei advogado. Toda a vida me senti o filho do solicitador. O meu padrinho de baptismo, por ser advogado era, na minha visão de miúdo, um senhor importante. Eu era, como sempre me senti, no respeito que ganhei pelas profissões, o filho do solicitador.
17.12.07
9.12.07
Retrato de um artista enquanto jovem
Não é fácil ser-se filho. Não é fácil chegar-se ao ponto de se ser pai. Não é nada fácil ter-se dezanove anos, aquela idade em que a sociedade nos tornou maiores, nos sentimos imensos e tropeçamos em tudo o que é pequeno, nos sentimentos e na arrumação do próprio quarto. Não é fácil, Hugo, conviver com o desejo de ter tido outra vida. Mas hoje, é o dia dos teus anos, meu rapaz. Houve tempos em que o mundo em redor tinha o sorriso deste teu olhar. Quem dera um tal instante tivesse sido o resto dos nossos dias. Bem-vindo hoje e parabéns.
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