17.2.08

Um profeta desarmado

Enlouquecido pela fé, em nome da pureza abstémia, combateu o luxo, a decadência moral, a degradação da política, enfrentou o poder papal, afundado este no seu pior momento de profanação do sagrado em que a Igreja de Pedro quase matou a Verdade de João.
Por causa dele, os de 'Medici foram destronados em favor de uma república teocrática, que governou Florença. Anos depois seria enforcado e depois queimado na Praça da Senhoria, não sem que antes o Papa Alexandre VI lhe tivesse oferecido a púrpura cardinalícia em troca do silêncio do seu verbo pregador.
O dominicano ficou de pensar e no dia seguinte, do alto do seu púlpito de onde incendiou o coração dos que aplaudiriam a sua morte bradou: «Non voglio cappelli, non voglio mitrie grandi o piccole, voglio quello che hai dato ai tuoi santi: la morte. Un cappello rosso, ma di sangue, voglio!».
Era a morte anunciada de um profeta desarmado. Deus, em nome do qual Girolamo Savonarola previu no Renascimento o Apocalipse, abandonou-o à sorte da excomunhão papal.