29.11.08

Manhã alta

Ás vezes é só aquela sensação de que, à falta de melhor meio, a eliminação resolve. Passa isto como a dor de cabeça desta manhã. Tudo vem a propósito de uma peça que passou na Cornucópia e eu não vi, comigo a teimar que se chamava Kurt quando era Karl Valentin o seu autor, baralhado, sempre a lembrar-me do Brecht. Depois, já pelo anoitecer, foi a lembrança do nome de todos quantos escreveram para teatro e como se escreve para teatro, aqueles separadores banais entre as falas, indicações ao encenador, sem arte, sem estilo, apenas frases necessárias, a voltearem como um vento frio e desabrido. Esta manhã, depois de uma noite povoada de Ionesco's e Beckett's e Strindberg's e tantos mais, acordei assim, cheio de frio. Talvez uma aspirina ajude, primeiro a resolver a dor, depois a confusão. No mais é uma questão de cobertores, a ficar, ou de um banho quente, a levantar-me, que a manhã já vai alta e na vida o palco está deserto.