26.12.08

Um vestígio de bondade

Há dias em que as tardes parecem noites e em que o amanhecer não devia ter acontecido. Há dias em que o sol longínquo inicia o seu apogeu por sobre a terra gélida, os ventos de norte, as almas glaciais. Nesses dias os navegadores rasgam das velas abandonadas tiras que serão farrapos convencionais, feios de tão vulgares, atados simples, restos feitos do que já foi uma forma de voar. Encostadas às amuradas, salgadas de tanto mar, as embarcações chiam as suas velhas carcaças, retesando o cordame, provocando a amarração.
Chegámos aqui ontem, contentes de viagem, felizes por viajar. Um momento depois começava a nevar. No cais um vestígio de bondade aninhava-se na forma de uma bebedeira noctívaga, o passo hesitante, já sem saber para onde ir.