11.1.06

Uma ideia apenas


Às vezes é só mesmo a vertigem da ideia, a de uma doença como solução. Confinado a uma cama, recluso numa enfermaria, eis aí a justificação plausível para se poder parar. E, no entanto, quantas vezes nem esse favor se recebe da vida. Morre-se num dia ocupado, deixa-se o embaraço da agenda a meio, a vergonha de compromissos por cumprir, a fatalidade das responsabilidades por honrar. Aos amigos, mesmo, quantas vezes calha mal o dia do funeral. E o corpo, resto inerte do que houve, a aguardar numa capela de igreja porque é mais rápido assim, o serviço mortuário religioso está mais à mão. Às vezes é só mesmo uma ideia, mas a vida vertiginosa em que se vive, nem lhe dá tempo para viver, mortos que estamos e de cansaço.