5.1.06

Uma mancha na consciência


Instalávamo-nos ali no Verão. Sentávamo-nos numa das mesas do fundo. Por eu ser muito pequeno, os criados traziam uma almofada para poder chegar à mesa. Lembro-me dos imensos guardanapos, densos de goma, os copos de pé alto, em cristal, os talheres pesados, com um toque de prata. Nesse tempo um jantar obrigava a «hors-d'oeuvre», dois pratos, fruta e doce. Ah! E sopa, e como eu odiava sopa. Uma vez, sem querer, porque nessa idade todas as asneiras são sem querer, e por detestar sopa de ervilhas, a má vontade em a comer deu num pingo a macular a alvíssima toalha. Ainda hoje ele me pesa na consciência. É numa das mesas do fundo deste magnífico Hotel das Termas. Olhando para a fotografia, acho que a vejo, nítida, vergonhosa, eterna, como se aquele mundo de excelência nunca mais tivesse sido perfeito, a partir daí.