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Trancado, noite após noite, nos esconsos de um escritório, imagino que em redor exista o azul dos céus e o verde dos mares. Visto o mundo porém, desta nesga obtusa de janela, pelo intervalo esboroado das persianas, resta-me uma pálida estrela cintilante, tão longínqua e empalidecida que se diria poeira esquecida no firmamento. A esta hora, no silêncio morno dos desertos e na atroar galcial das cidades haverá por certo alguém para quem a vida, na sua pacatez, equivalerá ao mar da tranquilidade. Acenar-lhes-ia se os visse, se os sentisse ou se na sua longínqua diferença neles me reconhecesse. Volto porém para dentro, negando-me essa familiaridade. A esta hora absurda, vista a janela, o obtuso do intervalo e a palidez da poeira, reentro em mim e comigo adormeço.