Teria sido num tempo em que as tardes eram suficientemente extensas para que se pudesse dormir, tranquila, a sesta, as noites tão grandes que era possível, sem esforço, ficar a ler. Teria sido num tempo em que numa daquelas janelas eu vi o alvorecer de uma ideia e p0r causa dela decidi não regressar. Dias depois zarparia o último navio e no vazio do porto eu compreenderia, enfim, o mundo que me restava. Teria sido num tempo em que se poderia optar por uma viagem ou por uma permanência. Hoje, olhando-à à fotografia da casa, de cuja janela tudo me sucedeu, hesito se é o azul ou o branco o automóvel que lá deixei. Não sei em nome de que ideia, por causa de que ilusão, ou a caminho de que erro, mas parti, do mesmo porto, num outro navio, a caminho do mundo em falta, a parte restante de mim.