Ontem ouvi, em viagem, uma magnífica entrevista feita na Antena 2, pelo Luís Caetano a um escritor argentino cujo nome não consegui reter. Naquele momento a maçadora estrada sumiu.
Num momento da conversa relatava quando encontrou o corpo do pai, médico, assassinado pelos para-militares, caído numa poça de sangue. Revolvendo-lhe os bolsos, a alma despedaçada, encontrou-lhe então um poema do Jorge Luís Borges Ya somos el olvido que seremos, copiado num manuscrito de difícil caligrafia.
Esta manhã fui procurá-lo: «Ya somos el olvido que seremos. El polvo elemental que nos ignora y que fue el rojo Adán y que es ahoratodos los hombres y los que seremos».
Num mundo de abutres este, o verso é um hino à mais intrínseca humanidade e modesta consideração pelo outro: «No soy el insensato que se aferra al mágico sonido de su nombre; pienso con esperanza en aquel hombre que no sabrá quien fui sobre la tierra».