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Passou a ser a minha caneta, noctívaga, madrugadora, a minha janela para o mundo, a minha caixa de correio, o lugar secreto dos meus desabafos, o meu arquivo, a minha sala privada de cinema, onde passo os olhos pelos jornais que não leio. Estão lá os livros que deveria acabar, o trabalho forense que me persegue com os seus prazos, os momentos mais íntimos, porque até um advogado tem alma. A mão é a minha. É através dela que se escoam os sentimentos, escorrendo para o teclado, em batidas incertas, por vezes com a aparência de palavras seguras e determinadas. Há no teclado uma tecla chamada «delete». Tem sido na vida a minha sombria tentação.