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31.12.05
Uma luz pardacenta
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30.12.05
O céu possível
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29.12.05
Um céu diferente
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26.12.05
Vida de jogador
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Entra-se por um portão normalmente aberto e de um dos lados da breve alameda, segue um renque de casinhas, todas contíguas, como se bungalows fossem. Nesse lugar antigo a História sedimentara-se, envelhecendo a euforia do futuro, dando consistência lógica a todo o passado. Eu estava ali de férias, em busca de nada, a caminho para sítio algum. Chegara por acaso, por um instinto do momento. O local chama-se Blenheim, fica não muito longe de Oxford. Ao fundo da rua desse hotel, poque é de um pequeno hotel que eu falo, virando-se à esquerda, é o monumental palácio do Duque de Marlborough, onde nasceu Winston Churchill. Lembro-me dos fins de tarde, quando, por ser Verão, a noite custava a chegar. Foi aí e então que eu li «O Jogador» do Stefan Zweig, e a história do preso que joga xadrez contra si próprio e sucumbe, enlouquecido, a essa impossibilidade lógica. Poderia ficar-se ali o resto da vida. As razões que o impediram, naquilo que orgulham, entristecem. também.
A curta vida da glória imortal
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O ser e o nada
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«La vraie philosophie se moque de la philosophie». A frase foi dita por René Descartes e vem citada num artigo sobre a tradução americana de um livro que tem todo o ar de ser simultaneamente lamentável e apetecível e que trata do grave problema de saber como é que um homem de meia figura, feio, quase cego de um olho, de mau feitio e que ainda por cima não lavaria os dentes conseguia seduzir sexualmente toda uma corte de raparigas jovens, belas e por vezes inteligentes. A obra chamava-se no original «Tête-à-Tête: Simone de Beauvoir and Jean-Paul Sartre». A editora é a Harper Collins. O autor da recensão chama-se Leland de la Durantaye, o qual é professor assistente na Universidade de Havard sobre Literatura inglesa e americana. Vem tudo no The Village Voice. Pelos vistos, como lembra o articulista, nas maquinações vis e predatórias, Simone de Beauvoir teria a sua parte. A inteligência, tal como o pau de cabinda, é, pelos vistos, um afrodisíaco, a filosofia um estimulante.
25.12.05
O velho carrascão
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A loja vendia de tudo e tudo prometia. Tudo, diga-se, no campo do magnético. Era a pulseira magnética que, por um dólar, o livra miraculosamente do stress, o cobertor magnético que, mais dispendioso, lhe tira, logo na primeira noite, as dores de costas e outras do esqueleto. Mas, de toda aquela parafrenálida sugestiva e sobretudo prometedora, o ponto máximo era o «Perfect Somelier», uma coisa simples, magnética também, como tudo o que por ali se amontoava. A fórmula é simples, o resultado garantido: mete-se dentro da maquineta uma garrafa de vinho corrente, daquelas da lojeca da esquina e em menos de uma hora o líquido envelhece anos e anos. «Sirva no seu jantar uma reserva especial, daquela garrafeira com que sonhou», era a ideia. A razão científica é que o magnetismo elimina os taninos. Se não for verdade, podia ser. Os incréus que leiam.
3.12.05
O mar Aral
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Como num pesadelo, o mar sumira-se e a erva crescera no seu fundo. Sal e ferrugem corroem hoje a paisagem. Uma sede de vida surge-nos, erráticos viajantes, súbita e necessária, secando-nos as entranhas. A ideia de uma terra finita, desolada, precária ofusca a paisagem, anoitece-nos o sentir. Um infinito mundo por viver, uma vida inteira desfeita em inutilidades, cobre-me a alma de pó.
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